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Cap. 228

“Não parece haver entardecer. Em um momento, há luz, mesmo que pouca, então você pisca e parece que não abriu mais os olhos de tão escuro que está.”

A frase encabeça a página de um diário que Augustus folheia aproveitando a luz tênue da tocha com que Cobra Traiçoeira continua sua luta contra a chaminé. O relato descreve bem o anoitecer abrupto da região.

Folheando as páginas, Augustus percebe quando os relatos deixam de estar em frases bem elaboradas escritas com tinta e passam para pequenos registros em algo parecido com carvão.

Trata-se dos registros em francês de Pierre Louis de Gonneville, enviado pela coroa francesa em 1750, segundo o próprio “para decifrar o desaparecimento da equipe do explorador Coronel Théophile Antoine Champlain” enviada duas décadas antes para mapear a região e identificar locais para estabelecimento de entrepostos comerciais e guarnições militares.

Conforme o relato, Champlain tinha a missão de, partindo de Quebec, em 1729, seguir para o oeste até chegar ao oceano, o que nunca aconteceu. Coube então, a Pierre, em março de 1750, seguir o mesmo caminho com base em informações fragmentadas coletadas por expedições anteriores.

O que motivava os franceses, na verdade, era identificar uma enorme área sem registros, localizada em meio aos seus territórios na América do Norte.

Precisavam descobrir se a falta de informações e registros vinha de alguma atividade de uma nação inimiga, ou se tratava de algum esforço para acobertar desvios de alguma riqueza que deveria ser propriedade do império.

A expedição de Pierre contava com 40 homens, carroças, mantimento, armas, equipamentos e munições, além do apoio do especialista em explorações em terrenos com neve e gelo, o tenente russo Vitus Golovnin, cedido pela cavalaria da czarina Isabel, e o renomado caçador e explorador do Novo Mundo Jean Jacques Rémy.

A leitura de Augustus é interrompida por um triunfante e molhado Cobra Traiçoeira: — Consegui! Podemos montar a fogueira.

Tex, que ninguém saberia dizer se cochilava ou apenas fingia dormir até então, parabeniza o delegado: — Certo, resolvemos o problema do frio. Mas, o que faremos quando a fome chegar?
 

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